O que eu não sabia sobre o lixo da minha casa

Aqui no meu prédio, como em boa parte dos prédios em São Paulo, tem coleta seletiva.

Eu separo o lixo reciclável do lixo orgânico e, uma vez por semana, vejo da minha janela o caminhão que leva o container de lixo reciclável. Até essa semana, isso era quase tudo o que eu sabia sobre reciclagem de lixo no Brasil.

Na última terça-feira tive oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a economia e o impacto social da reciclagem. A convite do Instituto Coca-Cola visitei a Doe Seu Lixo, no Rio de Janeiro, com os amigos da rede Viva Positivamente.

Desde 2003 a Doe Seu Lixo trabalha para gerar emprego e renda para famílias em todo o Brasil através da coleta seletiva do lixo doado por empresas e residências. De um lado, o emprego, que proporciona uma vida mais digna, e do outro, redução de impacto ambiental: isso é sustentabilidade.

Conversamos com o Júlio César, secretário-geral da Doe Seu Lixo, e com a Claudia Lorenzo, diretora do Instituto Coca-Cola, que deram uma boa visão sobre como eles trabalham com as cooperativas de catadores de lixo, implementando processos que melhoram a produção, capacitando os trabalhadores, criando melhores condições de trabalho e de segurança, e ainda dando uma mãozinha na administração. Achei essa parte a mais legal: transformar a cooperativa em um negócio rentável, para que essa renda possa ser usada para equipar as cooperativas e oferecer benefícios para os trabalhadores.

Outra oportunidade muito legal foi vivenciar o trabalho do pessoal da seleção de materiais, entender o que tem mais e o que tem menos valor no mercado de reciclagem e tirar dúvidas sobre como separar o lixo em casa... Tá vendo essa moça com a mão levantada aí na foto?

Ela é a Zilda, da Cooperativa de Catadores de Lixo do Complexo do Alemão, que estava nos ajudando a entender como separar os materiais nessa bancada. Ela tirou uma dúvida minha: Preciso lavar o lixo antes de separar?

A Zilda me falou que lavar ou não, não faz tanta diferença. O problema é o seguinte: O papel branco é um dos materiais com maior valor de mercado. Eles chamam de PAPEL 1. Ele só tem esse valor todo se não estiver sujo. Se sujar, ele vira PAPEL 2, e já fica mais barato. Então, ela me recomendou colocar todo o papel branco em uma sacola separada, para não sujar. O resto pode colocar tudo em uma sacola só, sujo mesmo. Segundo ela, lavar só vai desperdiçar água, afinal, tudo vai ser lavado novamente quando o for para o reciclador.

Depois que o lixo é separado naquela bancada, ele é prensado e pesado para ser vendido. Outra coisa que aprendi lá é que quando o catador é cooperado, a cooperativa consegue preços bem melhores para a venda do que ele conseguiria sozinho, justamente porque gera volume. Para quem compra esses materiais é mais importante ter a garantia do volume do que o preço mais baixo.

Mais legal do que entender como funciona o processo foi mesmo conhecer essas mulheres, presidentes das cooperativas. São realmente mulheres muito fortes e muito determinadas. Todas são catadoras, sabem exatamente como é estar lá com a mão na massa e tem compromisso com os cooperados. Algumas delas ainda trabalham em aterros, sobem as montanhas de lixo e passam lá o dia todo para garantir o sustento das suas famílias.

A Sarita, de vermelho, é catadora desde os 11 anos. Esse é um trabalho duro, injustamente desmerecido, mas sim, muito digno. Além de sustentar as suas famílias honestamente, diminuem o volume de resíduos que nós geramos diariamente, movimentam a economia e até reduzem riscos de enchentes, como elas mesmas lembraram.

Se você quer doar o lixo da sua casa, condomínio ou empresa, entre em contato com eles pelo telefone (21) 3287-3135 e (21) 3287-3169 ou pelo DoeSeuLixo.org.br. Mesmo que você não esteja no Rio de Janeiro, não tem problema, eles podem te ajudar a encontrar uma cooperativa mais próxima.